Powered By Blogger

sábado, 19 de dezembro de 2009

Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético - 39

DEÍSMO – segundo o filósofo PASCAL (1623/1662) o “Deísmo” é uma doutrina nociva (sic) para a Religião “porque ao invés de aceitar o Deus de Abrão, Isaac e Jacó, admite apenas o “Deus dos filósofos e dos sábios”.
Antes de se discordar do pensador francês é importante situá-lo no Tempo, pois à época a existência do “Deus Revelado (isto é, da divindade que se revelou, que se mostrou para o Homem através dos Profetas e das Religiões, principalmente a Judaica e o Cristianismo)” sequer era colocada em dúvida. Exceto, obvio, por alguns poucos que ousavam discordar. O “Deus”, como a Religião o apresenta, existia! E o máximo que se podia fazer era tentar entender sua Natureza, sua Mente, seus Desejos, suas Vontades etc.
E o Deismo, como PASCAL alertara, seria nocivo a essa Idéia da Divindade, pois pretendia, justamente, negá-la peremptoriamente. O Deísmo é essencialmente contrário a forma como o Divino é exposto pelas Religiões, exposição que traz embutida em si a idéia de que a Divindade é um SER cujo comportamento se assemelha ao humano. Por isso, Deus está sempre disposto a punir, recompensar, arrepender-se (como aconteceu quando se arrependeu de ter criado o Homem e mandou o Dilúvio para exterminar a humanidade), julgar e, principalmente exigir total e plena adoração e completa obediência.
Todavia, essa forma de se relacionar com Deus, diga-se, não foi invenção das religiões Ocidentais. Este comportamento já se observava no Hinduísmo primitivo e como foi ele a fonte que todas as outras Religiões beberam, nada mais natural que lhe ter plagiado também neste aspecto. Grosso modo, pode-se traçar a seguinte cronologia:
  1. Hinduísmo
  2. Deuses gregos e outras religiões da época.
  3. Judaísmo, através de Abrão, oriundo da Mesopotâmia de deuses antropomórficos1.
  4. Cristianismo, como Seita derivada do Judaísmo
  5. Religiões na atualidade, baseadas na tradição da Escolástica quando a filosofia grega foi embutida nos dogmas do Catolicismo.
Note-se que noutras religiões, como as da África Negra, chamadas de anímicas, mudam-se apenas o “Individuo Deus”. Se aqui, Ele é representado como um “pai”, lá ele assume a postura de um “Ancião” ou “Ancestral”, que por tradição é um “Pai” para todo o clã ou tribo.
Também merece reparo que na Mitologia Grega, o antropomorfismo é contundente. Os deuses e deusas assumem comportamentos e sentimentos tipicamente humanos. Nada, aliás, que difira muito do que hoje existe, pois quando se diz: “Deus é Pai”, o que se proclama é a submissão voluntária a uma autoridade abstrata à qual se delega a missão de resolver as questões do Homem.
É certo que esta maneira de convívio entre Homem e Deus, ou entre Homem e esse SER supra-humano, atende satisfatoriamente a carência da humanidade, que ante as injustiças (reais, verdadeiras, ou não), os sofrimentos, as dúvidas existenciais etc. encontra na figura Divina um consolo e uma esperança de que seus problemas sejam resolvidos por Ele. Consolam-se com essa fuga da rudeza da Realidade.
São benefícios, diga-se, que o Deísmo não oferece, pois o “Deus” que admite é aquele “SER SUPREMO” cujos atributos, ou características, são totalmente incognoscíveis (isto é, impossíveis de serem compreendidas pela inteligência humana), mas que se presume, estejam mais ligados ao “funcionamento” do Universo (ou dos Universos) como um Todo e é claro, indiferente à sorte do Indivíduo que pertence a uma das espécies que habitam uma parte minúsculas do Cosmo. Aliás, para alguns, está aqui uma das causas do Deísmo encontrar tanta rejeição, pois causa verdadeiro horror na maioria dos Homens, saber-se absolutamente insignificante em relação ao Macrocosmos*. Por isso, é que provavelmente inventaram o “seu Deus”, a quem prestam reverência, em troca de favorecimento pessoal.
A doutrina Deísta, como se viu, admite a existência (ou não) de “alguma coisa” que pode ser um SER, ou uma ENERGIA (a tese mais aceita) que coordena o Universo através das Leis da Natureza (como a da Gravidade, por exemplo). Claro, que ao coordenar o Mundo, também coordena as Espécies, mas só indiretamente é que concede alguma atenção aos Indivíduos que formam a dita espécie. Por ser uma doutrina sem um dogmatismo rigoroso, o Deismo aceita (ou não) a existência de “almas imortais”, o fato da “Moral” obedecer a uma lei geral, e outras proposições genéricas que nunca descem ao patamar em que vive o Homem. Ao contrário de tantas, é muito mais aberta à Metafísica (entendida em seu aspecto de universalidade) que à Física, ao concreto.
Diretamente, ao Homem, só oferece a oportunidade de se saber membro de uma espécie, a qual, tal como ele mesmo, é regida pelas “Leis da Natureza”. E, também, a oportunidade de exercitar essa humildade que o levará a aceitar com serenidade as pessoas e os fatos que anteriormente lhe pareceriam inferiores. De aceitar as vicissitudes da vida, como uma decorrência natural e não como um “Castigo Divino”. A aceitar que a ganância material é apenas e ao cabo, uma fonte de aflição, agonia e frustração. E, mais importante, a chance real de crescer intelectualmente e moralmente, livrando-se das supertições, dos pré-conceitos e dos dogmas que por muito tempo o afligiram.
Com o avanço da Ciência e da Intelectualidade (embora se questione esse aperfeiçoamento), observa-se que em números reais a quantidade de Deístas aumenta progressivamente e alguns analistas preveem que em médio futuro, essa tendência passe a ser predominante, embora não exclusiva, pois a carência do Homem sempre o fará criar algo ou alguém que lhe seja superior, para que ele troque sua obediência pela intercessão que lhe facilite a vida, vingue-o das ofensas recebidas, cure-o das doenças e, se possível, ajude-o nas conquistas amorosas. Alguns chamam isso de “comportamento de rebanho”. Outros, de “complexo de inferioridade”, ou de “covardia moral e intelectual” etc. Além disso, existem os que enxergam na obediência religiosa uma ato de coragem, na medida em que há uma confiança irrestrita em algo irracional, mas digno de fé.

Antropomórfico – característica do Homem em transformar tudo à sua semelhança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário