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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético - 32

CONSTRUTIVISMO – em geral é uma “Teoria do Conhecimento (especulação, estudo, tentativa de entender como acontece o conhecimento)” baseada principalmente na relação entre o Individuo que estuda e o Objeto que está estudando. A Razão, ou o Raciocínio Humano, através de um processo dialético (tese, antítese e síntese) estrutura ou forma desse modo a Realidade ou o Real daquele objeto. Vejamos esse exemplo:


  1. O objeto parece preto (tese)
  2. O objeto parece branco (antítese)
  3. O objeto É cinza (síntese)
Note-se que para saber a verdadeira cor do objeto foi necessário que houvesse um processamento intelectual, pois o Conhecimento não é imediato, mas só acontece após o cérebro organizar as percepções captadas pelos Sentidos (olfato, paladar, tato, audição, visão) e a partir daí tornar-se apto para emitir um Juízo ou um Conceito sobre o que fora captado. Disso decorre a afirmativa de que o Conhecimento NÃO acontece por Intuição. É construído.
O conhecimento do Real ou da Realidade necessita, segundo essa doutrina, do processamento feito pela Razão ou Raciocínio, embora ela própria, a Razão, seja construída pela realidade, na medida em que o cérebro que a abriga é um produto da realidade material, objetiva.
Essa tendência filosófica veio à luz (no rastro do Positivismo, do Racionalismo Renascentista?) através de BACHELARD (1884/1962, França) que a usou para designar a doutrina que afirma que o Conhecimento NÃO é um dado que se apresenta espontaneamente ao Pensamento. Que “venha pronto”. Como se fosse “perfeito” e não trouxesse consigo vários problemas. Como se fosse algo evidente, imediata e intuitivamente percebido por qualquer experiência empírica (quando os Sentidos captam os dados). Ou que esta experiência pudesse representar uma constatação livre da necessidade de qualquer exercício intelectual. Ao contrário, todo Conhecimento é um CONSTRUCTO, ou seja, algo construído. Um objeto pensado, refletido.
O Conhecimento é algo elaborado a partir de certa teoria que apresenta problemas, dúvidas e que por isso sofre a carga das Teses e das Antíteses para que encontre sua solução, conforme exemplo acima. É desse embate que surge a resposta para a dúvida sistemática e onipresente sobre os aspectos do Real, ou da Realidade, que foram captados pelo Indivíduo. Sem haver tal confronto de opiniões é impossível chegar-se à Verdade sobre qualquer objeto, fato ou assunto.
Construtivista, portanto, será toda Teoria do Conhecimento (ou epistemologia) que negue ser o “Objeto Real” ou “uma coisa verdadeira” (como por exemplo: um prédio, ou o sentimento de tristeza) aquilo que for apenas um mero produto dos Sentidos (visão, audição ...) que se manifeste “pronto” e em sua totalidade ao pensamento. Ao contrário, Construtivismo é a teoria que afirma ser o “Objeto Verdadeiro” construído intelectualmente através do exercício do Raciocínio. Nesse caso, é o Raciocínio ou Razão que vai ao Objeto e NÃO o Objeto que irá ao pensamento. É o Sujeito que vai ao Real ou à Realidade ou ao “Mundo Externo” e o Conhecimento desse Real só acontece quando o Sujeito o “constrói mentalmente” eliminando as “impurezas” que vieram junto com a simples percepção. Eliminando as dúvidas que acompanham a primeira impressão que o Objeto causa nos Sentidos, para que através dessa depuração o Conhecimento se torne o mais verdadeiro possível.
Construtivismo é, também, o nome da Filosofia de J. PIAGET (1896/1980 Suíça) que afirma haver no processo de aprendizado, ou de aquisição do Conhecimento, a necessidade de se estabelecer que entre o Sujeito que estuda e o Objeto (ou o Mundo Externo. Externo porque está “fora” do Individuo) Estudado, não exista apenas a primeira impressão captada pelos Sentidos. É imprescindível que não se admita a “experiência empírica” como capaz de oferecer o Conhecimento verdadeiro. Os dados da Coisa que foram captados ou percebidos através dos Sentidos serão sempre insuficientes e incapazes de ofertarem Certezas, pois o Conhecimento Cientifico (ou seja, aquele que é mais exato) não é um mero reflexo da Realidade que os Sentidos Humanos captam. Não pode ser apenas isso. Na verdade, o Conhecimento é resultante da atividade intelectual do Indivíduo que com isso organiza os dados recebidos através da experiência empírica, para efetivamente compreendê-los. Se os dados forem comparados a tijolos, veremos que organizá-los é imprescindível para que se CONSTRUA o edifício do Saber Verdadeiro. A simples existência dos tijolos é incapaz de levantar tal edifício.
Nota-se que em suas grandes linhas a doutrina de PIAGET repete ao que já havia sido proposto por BACHELARD. Porem, se não brilha pela originalidade, teve o mérito de alcançar a população leiga e de se tornar um referencial para a elaboração dos métodos de ensino que são ministrados em colégios, escolas, universidades etc.
Em Matemática e em Lógica, só é classificada como Construtivista a teoria que afirmar que os objetos só serão considerados Reais ou Verdadeiros, se puderem ser construídos através de exercícios intelectuais. E, por conseguinte, se for possível provar a existência desses objetos através de experiências práticas e processos racionais. Nessa linha, em Lógica, será Construtivista a tese que afirmar que só será uma Proposição (proposta) Verdadeira, aquela que permitir que se Construa uma prova de sua Verdade. Essas concepções são opostas ao Pensamento de PLATÃO e ao Pensamento Realista, os quais afirmam que os Objetos abstratos, como os da Matemática, existem de fato, mesmo quando não são percebidos, nem pensados pelos Homens (a forma de um triangulo existe, mesmo enquanto estou dormindo). Os Objetos Abstratos NÃO dependem da percepção humana para existirem efetivamente.
Na seqüência abordaremos um pouco mais sobre o vocábulo raiz, ou seja “Construção”, segundo a ótica de HUSSERL.
De uso freqüente por anglo-saxões, o termo “Construção” serve para dar nome às Entidades Mentais (juízos, deduções) cuja existência se tem como confirmada através da comprovação das hipóteses ou dos Sistemas Lingüísticos usados para afirmar tais existências. Mesmo que tal Entidade não seja observável diretamente ou que tal existência só possa ser inferida (deduzida ou aceita como coerente e logicamente correta) de fatos observáveis.
A “estréia” desse termo aconteceu com HUSSERL que assim enunciou (ou expos) o seguinte Principio: sempre que for possível, é necessário substituir pelas “Construções Lógicas” as Entidades (apenas) inferidas (ou supostas). Em outras palavras: deve-se trocar sempre que possível as Entidades (pensamentos, juízos, conceitos) apenas supostas, pelas Construções “acabadas, prontas” que dão a Certeza sobre aquela Entidade.
As “Construções (similares às construções de um edifício, por exemplo) deverão ser feitas seguindo um método de trabalho coerente, ou Lógico, para que existam de fato e não sejam apenas um amontoado de coisas. São elas providas de uma “Existência Sistêmica”, isto é: existem dentro de um Sistema porque formam ou constroem esse mesmo Sistema e dele não podem ser separadas. Suas existências são descritas Analiticamente (minuciosamente). Diferentemente das Coisas só inferidas ou supostas, mesmo que tenham uma Existência Real. Dessas, pode-se falar com uma simples proposição ou proposta Sintética. Tome-se esse exemplo: uma casa pode ser referida através de um Conceito Sintético. Quando digo “Casa” o ouvinte forma em sua mente a imagem de uma casa; porém, se quisermos aprofundarmo-nos no estudo daquela “Casa” teremos de fazê-lo de modo Analítico (ou minuciosamente, detalhadamente) com cada um dos componentes (os tijolos, a cal, o cimento ...) que constituem ou formam a Casa em questão.
É claro que ao fazermos o Estudo Analítico de qualquer coisa, estaremos mais próximos da Verdade do que quando nos contentamos com o estudo sintético. Pois bem, HUSSERL propôs exatamente isso: que se substitua os Conceitos sintéticos, mais simplórios, pelas Definições Analíticas, mais amplas e plenas, sempre que for possível, pois, é esta, de fato, a função da filosofia: aprofundar ao extremo possível a descoberta da Verdade de qualquer coisa. O exame superficial e incompleto, quando não inverídico, pode ser útil para outros ramos da atividade humana, mas se quisermos de fato atingir a Essência de qualquer coisa devemos analisar detalhadamente todas as partes que a Constroem para que esses estudos individualizados se reflitam no mais completo saber sobre o que se estudou.

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