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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético - 05

ANARQUISMO – ao contrário do sentido que vulgarmente lhe é atribuído, o Anarquismo NÃO É a destruição pura e simples de todas as regras, normas e leis, eliminando-se desse modo o Estado, a Religião, a Moral e outros valores que embasam as Sociedades. E devolvendo o Homem ao seu estado selvagem, ou como dizem “Estado de Natureza”. A proposta do Anarquismo é a de preservar a Sociedade, porém noutros moldes. Nesse novo modelo, seria incontestável que o Homem é a “Única Realidade”, ou seja, apenas o Ser Humano existe efetivamente enquanto que o restante é apenas um mero Fenômeno1. Fenômenos que por deturpações (ou oriundos da natureza humana?) tomaram tal importância e proporção que aprisionam o Indivíduo cerceando-lhe até a liberdade mais intima, posto que lhe impõe restrições até em seu modo de pensar. Restabelecida a primazia do Homem, a Sociedade seria formada a partir da associação voluntária de cada um e tudo seria feito em prol de cada um individualmente e não, como na Sociedade de sua época, em beneficio do coletivo ou de certa Classe. Dessa sorte, em termos literais, tem-se que o Anarquismo é a Doutrina que prega ser o Homem a “Única Realidade” ou “Essência” e que tudo que servir para aprisionar o Indivíduo deverá ser exterminado, pois esses controles são ilegítimos, embora sejam legalizados. Aliás, seguindo essa linha, teremos que o próprio Estado, na condição de legislador e executor das medidas coercitivas é Ilegítimo, e, portanto, passível de ser exterminado. As estruturas sociais que lhe substituírem serão feitas a partir da livre vontade de cada Individuo, o qual vendo que tal Sociedade lhe cobre de dignidade e serventias, naturalmente achar-se-á inclinado a tratar seu semelhante do mesmo modo, substituindo-se a Justiça punitiva por outra superior em que se valorizará o entendimento e a prevenção. O homem voltaria a ser “a medida de todas as coisas”, como afirmavam os Sofistas2 e especialmente PROTAGORAS3, que com esse axioma queria afirmar que tudo deve ser feito visando à satisfação do Ser Humano. PROUDHON (1809/1865) é dado como o criador da Doutrina Anárquica e sua primeira preocupação foi demonstrar que a Justiça não pode ser imposta ao Indivíduo, mas – como já nos referimos – seria ela uma capacidade nata de cada Indivíduo que através dela (e sem ser coagido pela pressão da sociedade) perceberá naturalmente que seu semelhante é tão digno de respeito e cordialidade quanto ele próprio. Sem sair de sua Consciência (no sentido de capacidade de julgamento) Individual, o Ser Humano se adequaria facilmente à Coletividade. Em sua obra de 1858 “A Justiça na Revolução e na Igreja”, PROUDHON expõe seu desejo de que o Estado fosse reduzido a alguns grupos - cada qual com funções especificas – que estariam unidos por uma Lei Comum e por Interesses mútuos. Claro que tal Sociedade seria constituída sem a existência da Propriedade Privada, a qual o filósofo chama de “Furto” em outra de suas obras: “O que é a Propriedade?”, publicada em 1840. Aqui, achamos necessário fazermos outro recorte: em última análise PROUDHON propõe o regresso a um tipo de Sociedade primitiva onde os laços eram familiares e reunidos em clãs. Sociedades coletoras e caçadoras em essência, pois o pastoreio e a agricultura, por si, já indicariam algum tipo de produção resultante de trabalho o que fatalmente levaria a alguma reivindicação e posterior apropriação. Ou seja, Propriedade Privada. A ideologia de PROUDHON permite uma segunda visão sobre a mesma e se quisermos inverter o eixo de nossa observação poderemos ver o filósofo como requerente de uma nova forma de Estado que evoluiria até o ponto de se tornar o mais justo possível. Contudo, em ambos os casos, ver-se-á a preocupação de que o Indivíduo seja mais valorizado que o Coletivo, o qual, a rigor, é apenas uma abstração longe de ser Real. Em termos mais amplos da Filosofia, fugindo de seu aspecto de Política, vamos encontrar MAX STINER (pseudônimo de GASPAR SCHIMDT 1806/1856) que é dado como o teórico mais importante dessa tendência. Em sua obra “O Único e sua Propriedade”, de 1845, ele reafirma a primazia do Individuo, que também para ele é a “Única Realidade” e o “Único Valor”. Ou, em outros termos, é o Único Ser que existe em Essência e que por isso tudo deve ser adequado aos seus interesses. Também reafirma que subordinar o Indivíduo à Lei do Estado, da Religião e a outras Normas – que visam primeiramente o beneficio do Coletivo – é impossível, pois o Homem aprisionado por algo que é diferente dos seus anseios e de suas convicções e idiossincrasias mais intimas pode até ser submetido (mesmo que pela força bruta), mas sempre obedecerá de mal grado e ao se tornar refém dessas normas, convenções e afins torna-se um mero escravo, com todas as mazelas que essa condição implica. Dessa sorte, para MAX, a única forma de convívio social seria numa Sociedade sem hierarquia, onde o Indivíduo adentraria de forma voluntária e tão somente para multiplicar sua capacidade de obtenção dos recursos necessários à vida. Saberia que essa associação é apenas um MEIO e não uma FINALIDADE, como pregaram PLATÃO e HEGEL, dentre outros. Embutida nessa Idéia de uma nova Sociedade acha-se a necessária e inevitável destruição da Sociedade existente, o que seria feito através da insurreição popular, pois imaginar que o Homem volte aos seus primórdios (no Estado de Natureza) seria menos crível que acreditar que ele seria capaz de lutar contra a opressão que lhe é imposta. E foi justamente nessa crença que os Anarquistas Russos insistiram. Anarquistas que conviveram com os Leninistas e Trotskistas na época da Revolução de 1917 e 1922. Dentre eles, o mais conhecido (o mais importante?) foi MIGUEL BAKUNIN (1814/1896) que em um de seus números escritos, “Deus e o Estado”, de 1874, reafirmava a imperiosa necessidade de se destruir todas as Leis, Convenções, Instituições, Religiões, Crenças, Superstições etc. Em 1923, G.LANDAUER, em sua obra “Die Revolution” também pregou que a Ordem Social existente era o efetivo MAL, enquanto que a “Nova e Libertária Ordem” seria o BEM efetivo. E que o BEM esmagaria o MAL trazendo uma nova vida para os Homens. É claro que a visão desses pensadores era eivada de certo romantismo, pois pressupunha – no estilo do “Bom Selvagem” de ROUSSEAU – que o Ser Humano estaria isento da Vontade, conforme SCHOPENHAUER4; do cego e irracional instinto de sobrevivência. Hoje sabemos que não, mas não época ainda era possível crer que o Homem fosse superior aos outros animais com quem convive.

1. Fenômeno – a matéria, aparência, o concreto e perecível.
2. Sofistas – pseudo filósofos gregos que privilegiavam o ensino da Oratória, descuidando do conteúdo da matéria.
3. PROTAGORAS – sofista de grande fama, que é citado por SOCRATES, através da pena de PLATÃO.


4.SCHOPENHAUER – dito o “Filósofo do Pessimismo”. Sobre ele (e mais alguns outros Pensadores) traçamos um breve artigo nessa obra. Confira nas publicações anteriores

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