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sábado, 6 de março de 2010

Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético 97

INTELECTUALISMO e INTELECTO – antes de abordamos o Sistema, será oportuno discorrermos sobre o vocábulo raiz: Intelecto.

Do Latim “INTELECTTUS” de “INTELLIGERE” = compreender.

Na antiguidade grega, precisamente com o florescimento de ANAXÁGORAS (pré-socrático 499/428 aC.), o termo Intelecto (NOUS, em grego) passou a significar o Principio (ou a Lei Geral) de Ordenação (ou de organização) do Cosmo. Por extensão (indevida, para alguns), também passou a simbolizar a faculdade (ou capacidade) do Ser Humano pensar. Capacidade essa que refletia a “Ordem Cósmica”, por lhe ser análoga, embora, é claro, de outras dimensões.

Esse “enobrecimento” do Intelecto passou a diferenciá-lo (por ser considerado Superior) das Sensações, dos Desejos, dos Apetites e doutras características vistas como próprias de “Seres Inferiores”, como os animais, por exemplo. Segundo Aristóteles (384/322 aC. Macedônia, região contigua à Grécia) “O Intelecto é a parte da Alma com a qual esta conhece e pensa”, ou seja, o Intelecto é a “ferramenta” que a Alma usa para conhecer e pensar.

Na Escolástica1, principalmente com TOMÁS DE AQUINO (1227/1274, Itália) desenvolveu-se a noção de Aristóteles, acima citada, definindo o Intelecto como “a capacidade (ou faculdade) que o Homem tem de “entender, compreender, criar Conceitos2 e Pensar por “idéias gerais, formuladas por outros”, ou de forma abstrata.

Como o correr do Tempo, os Conceitos de Aristóteles e da Escolástica foram separados em duas vertentes, como se verá a seguir:

1. INTELECTO AGENTE ou ATIVO – quando o Intelecto é o Agente (quem faz e/ou promove um acontecimento) que transforma as SENSAÇÕES captadas pelos Sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato) em PERCEPÇÕES; isto é, o conjunto que resultou das Sensações organizadas. Essas Percepções, através de movimentos intelectuais, tornam-se Abstratas, Inteligíveis (compreensíveis) e adquirem a condição de CONCEITOS2. Dessa noção é que surgiu a célebre Sentença (ou frase): nada está no Intelecto, que não tenha estado antes nos Sentidos. (Tempos depois, essa Sentença foi retomada por HUME para defender o Empirismo*). Após TOMÁS DE AQUINO, tomou a hegemonia na Filosofia Escolástica o célebre SANTO AGOSTINHO (354/430, atual Argélia), para quem o “Intelecto Agente ou Ativo” pode ser visto como a “Luz Divina” ou a “Iluminação” que permite ao Homem entender e conhecer.

2. INTELECTO PACIENTE ou PASSIVO – conforme a tradição Aristotélica e Escolástica é o oposto, obviamente, do Intelecto Ativo. É, então, considerado como a Capacidade de receber e organizar (pela reflexão, dedução e outros processos mentais) os CONCEITOS e as IDÉIAS que foram produzidas pelo Intelecto Ativo. Mal comparando, seria uma espécie de Arquivo que guarda os Conceitos, Idéias, Noções, etc. após lhes ter submetido a um novo ordenamento, a uma nova organização.

O termo “Intelecto”, na Atualidade, vem sendo progressivamente substituído pelo vocábulo “Entendimento”.

INTELECTUALISMO – é o Sistema de Pensamento que coloca o “Intelecto”, ou “Entendimento” como a base indispensável, e talvez única, de todo SABER e de toda AÇÃO dos Seres Humanos.

Essa condição de primazia torna-o contrário ao Experimentalismo*, pois afirma e prega a Superioridade das Funções Intelectuais que são, ao cabo, o “porto” onde todas as outras se abrigam. É a doutrina que tem como “Bem Supremo” o Pensamento Conceitual ou Discursivo (isto é, o pensamento capaz de criar um conceito, após processar corretamente as informações que lhe chegaram. Discursivo, exatamente por ter feito todas as operações intermediárias: como o Raciocínio, a dedução e a demonstração. Seguiu o “curso” correto). Segundo, pois, esse Sistema “A Realidade ou o Real” é inteligível (compreensível) bastando para tanto o uso da Razão ou do Raciocínio. O uso do Intelecto.

Porém, a partir do inicio do século XX o termo “Intelectualismo” passou a ser usado, também, como adjetivo pejorativo. Rotulando-o como se fosse uma enfermidade psicótica ou psicológica daqueles que constantemente vivem “fora da realidade”; sempre imersos em “Devaneios” que os afastam dos “mortais comuns”. Também é acidamente criticado o apego exagerado às Idéias, aos Sonhos, aos Projetos em detrimento do lado prático da vida.

1 Escolástica - (Corrente Filosófica que surgiu a partir da Patrística, a filosofia dos Padres da primitiva Igreja Católica. Seu principal objetivo era conciliar os dogmas da Fé com o Raciocínio ou Razão)


2 Conceito – ( a definição dada a um Objeto, Ser ou Fato, após tê-lo estudado e compreendido).

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